quarta-feira, 14 de setembro de 2016

História dos videogames: Tennis for Two e Spacewar!
























Relação entre a bomba atômica e seu videogame? Pois é. A História – minha área de formação – tem esse tipo de loucura aos montes. Na verdade, faz bastante sentido, uma vez que a História dos videogames está intimamente ligada à história da computação no pós-Segunda Guerra Mundial. A guerra através da história humana tem sido um fator motivador de novas tecnologias e o videogame passa por essa corrente também.
As primeiras tentativas de criação de computadores que jogassem alguma coisa nasceram em laboratórios de computação e eram basicamente exercícios teóricos. A tarefa de ensinar um computador (e por computador pense em máquinas do tamanho de prédios que recebiam instruções através de cartões perfurados) a jogar xadrez foi por muito tempo um objetivo lendário de cientistas da computação. Nesse processo acabavam surgindo máquinas que podem ser vistas como games primitivos, mas que não foram na época encarados assim.
O Nimrod, de 1951, é o ancestral mais antigo dos videogames, ainda que seu objetivo não fosse entretenimento
Um deles o Ninrod - que jogava Nim... uma variação estrangeira de palitinho ou algo assim - até ficou super popular em feiras de inovação, mas no limite foi criado pelo desafio técnico. Um dos que se engajaram na busca do computador enxadrista foi o lendário Alan Turing, conhecido como pai da computação moderna e vítima do pensamento retrógrado de sua época. Condenado por “indecência” por ser homossexual (você leu certo, e isso ainda existe em países hoje em dia, desgraçadamente) ele acabou se suicidando com apenas 42 anos em 1954. Para quem quiser saber mais sobre o gênio dos primórdios da informática que decifrou códigos nazistas na guerra, o excelente filme  O Jogo da Imitação conta sua vida.
O primeiro protótipo de jogo eletrônico criado para entretenimento se chamava Tennis for Two e foi criado pelo físico William Higinbotham em 1958, como parte de uma mostra de tecnologia do Laboratório nacional BrookHaven nos EUA. O jogo rodava em um computador analógico e era apresentado num osciloscópio (pense no visor de monitor cardíaco). 



Reprodução de Tennis for Two em oscilóscopio
Tratava-se de uma simplíssima simulação de tênis com uma representação de rede vista lateralmente e duas “raquetes” controláveis. Tennis for Two permitia que dois jogadores se enfrentassem com grandes controles desenvolvidos especificamente para a mostra. Satisfazendo a curiosidade que plantei no primeiro parágrafo: Higinbotham participou do projeto da primeira bomba nuclear, criando sistemas de ignição para o dispositivo. Ele dedicou o resto de sua carreira ao controle da proliferação de armas nucleares.



Aí chegamos então ao que muita gente considera como o primeiro videogame de todos os tempos: Spacewar!



O game rodava num glorioso DEC PDP-1 (com seus colossais 9.216 bytes de memória padrão e clock de 200 kilohertz... História é legal!) e era bem mais complexo do que Tennis for Two. Spacewar! é um combate entre duas naves espaciais que são constantemente atraídas por um centro gravitacional no meio da tela. Os jogadores controlam a rotação das naves, a propulsão e atiram, tentando destruir o oponente. Foi desenvolvido por Steve Russell, Martin Graetz e Wayne Wiitanen, então estudantes do MIT (Massachussets Institute of technology) e nerds homéricos, fãs de ficção científica pulp e entusiastas da programação como algo criativo. O jogo era distribuído pelos criadores a quem pudesse rodá-lo, uma vez que os computadores da época eram caros demais para justificar ganhos comerciais sobre ele, e ganhou fama entre programadores e visionários da indústria de entretenimento. Foi da iniciativa de vários empreendedores e malucos de plantão de transformar Spacewar! em algo vendável (de início um fliperama a moedas) que todo o caminho até o seu Playstation 4 sujo de Doritos se abriu.
É bastante fascinante pensar no tipo de geek tarado que é necessário para olhar para uma tela do que era basicamente um instrumento de medir ondas e pensar “dá pra fazer alguma coisa legal com esse negócio, eu sei! ”. É graças a essas pessoas que nossa história começou e evoluiu até a complexa forma expressiva e imensa indústria que é hoje, e eu sou muito grato.
 Para quem queira viver um pouco dessa história - e se impressionar com o que um nerd motivado conseguia fazer nos anos 1960 - o link abaixo tem o código original de  Spacewar! rodando em um emulador de PDP-1.

Mais informações e fontes:

Mais sobre  Spacewar! no site do museu da história da computação:

Ótimo Livro sobre a História dos videogames
Donovan, Tristan. Replay: The history of videogames.Yellow Ants, Sussex, UK, 2010.

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